o trânsito é o signo (ígneo) e o acontecimento mesmo de uma lógica sistemática (ou poder sobre a lógica, sobre o próprio movimento, o lógos) desde a modernidade.
é o signo pelo processo de re-significação intenso que o trânsito demanda... todas suas diretrizes e lógicas (racionalizações) para sua estruturação e funcionamento.
é o acontecimento pela mesma idéia que faz dele, o trânsito, uma ação e um conceito central para um mundo em extrema expansão e complexidade... O trânsito, ou poderíamos dizer, o movimento sistêmico, um sistema de trânsito, passível de ser controlado e desenvolvido simultaneamente, permitindo tal agenciamento dos fluxos, é o motor da sociedade - de suas trocas, de seus seviços, se deus poderes e instituições.
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Tratando-se de sistemas, o trânsito poderia se atribuir a alguns diferentes sistemas, que funcionam sob um mesmo padrão - a lógica e o agenciamento de seus fluxos (percurso e destinação): o dos veículos motorizados e não motorizados (ruas, vias expressas, incluindo as calçadas e passagens para pedestres); o de saneamento básico e abastecimento (incluindo esgotos e encanamentos); o de transações virtuais e materiais, dos valores (cabe aqui dizer a própria economia); o própriamente virtual e imagético, o da informação (gerando aqui o que se tornou a internet).
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imaginemos, então, esta lógica e o conceito implícito de sistema que podemos tratar como um poder além da potência, um poder que cerceia a potência de movimento e locomoção (do nível material ao ideal):
permanência - o controle de fluxos, geometricamente falando, o controle do giro dos motores pela velocidade, o semáforo, na alucinação das suas cores, os instantes de parar e se movimentar, as faixas determinando os espaços para carros e pedestres, os sinais de direção comandando para onde e como andar.
gerência e gestão - cabe aqui a previsão também. estamos tratando de estabelecer os caminhos previamente de nossa locomoção, gerindo e gestando a "entia", os entes que se movem, o movente do movimento, caogulando o próprio devir deste, obliterando sua potência... (imaginemos que se fosse um deserto, ou o mar, as direções possíveis dariam uma imaginação e memória de devires incontidos num espaço 'embarrocado'... uma realidade de cerceios e limites, que conota a abstração barroca de nossos devires...)
tensão/desatenção e vontade de aceleração - as velocidades cambiantes e, principalmente, o lento ritmo atual do trânsito nas grandes cidades, em contraste com pela capacidade do veículo em ir mais rápido cria uma discrepância sutil, gerando uma espécie de distúrbio emocional, uma estimulação para intolerância, contravenção e ao acidente...
desrespeito a outro tipo de locomoção - o sistema de trânsito, atualmente, é um parcial de toda a potencialidade que se tem de locomoção hoje em dia. Ele serve apenas e geralmente para poucos tipos. E se levarmos a cabo o contexto da paisagem urbana com afinco, poderemos notar a violência com que se relaciona o trânsito e as partes que compõem a cidade... desde o barulho, os sinais e propagandas, a poluição, os desvios de contemplação e percepção, a perturbação constante com a atenção paga para todo esse desrespeito com o risco, não menos constante, de morte...
a propriedade e a subjetivação pelo objeto móvel - a determinação de uma personalidade e atitude pelo tipo de carro com o qual se transita, o risco e o medo da perca de identidade pela perda do automóvel (o próprio nome já diz, uma mobilidade automata, só é preciso deprender cuidados regulares para seu uso), a pseudo-idolatria do objeto nos assujeita a tal forma de locomoção, que se relaciona diretamente com nossa potência - a vontade de percorrer caminhos, lonjuras, velocidades, a potência errante, da viagem... ela é pega bem aqui... no carro e no controle de trânsito...
Cabe a nós pensar, paulatinamente, que tipos de subjetivação esses sistemas de trânsito constituem.Vale lembrar que, a medida que esses sistemas mudam, a nossa vida cotidiana muda drasticamente com eles.Não só pela aquisição e desenvolvimento de faculdades psíquicas e certos conhecimentos práticos (calcular o tempo de viagem, como qual direção tomar, como chegar no destino, etc), mas pela própria determinação subjetiva a qual o sistema impõe - eu desejo aonde e o que vou fazer dependendo de como chego lá, de quanto tempo eu levo para chegar, qual e o que vou fazer em cada lugar e comparar os tipos e as opções de transporte envolvidas, etc. Enfim, a - qualidade e quantidade de - locomoção é um dos centros do nosso raciocínio e do poder decisivo de nossas ações. Mais do que uma uma influência psicológica e física, a potência de locomoção e os sistemas que a determinam socialmente incunbem de implantar em nós pensamentos políticos e morais, sendo a determinação dos sistemas, na maioria dos casos, deciões políticas e morais aquém da nossa realidade e necessidade de locomoção.
...voltado a isso, e ao aumento do consumo e o desperdício de matéria, não só de automóveis, como o de água, alimentos, enfim, tudo esse panorama converge a um fechamento do espaço virtual, da possibilidade em detrimento de uma megalomania e esvaziamento da potência, a uma saturação anuladora. Isso se assemelha a um perfeito modelo ou método de agenciamento não só do fluxo, mas da loucura e possibilidades que ele gera... o trânsito, numa paródia infeliz, é uma loucura da "má consciência"...
É tudo tão explícito e cravado no território, que talvez seja melhor não noticiar.
(nem toda lógica envolve um sistema, mas todo envolvimento lógico gera um acontecimento... encadeado por outras razões ou não...)
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