sábado, 6 de dezembro de 2008
Aniversário do Rúbio
Presságio da balada. Póst-scriptum do êxtase.
por Eferrand'Obra, Caramina-Valèy, Kainy Lok, Thzamaral
(p.s.: adoramos a festinha. valeu rúbio!)
terça-feira, 9 de setembro de 2008
21 DE NOVEMBRO - DIA SEM MÚSICA
Estarei observando o dia sem música por tantos motivos que não caberiam num box set de 48 cds com sinfonias e óperas compostas somente para isto.
“O pensamento, esse soberano juiz do mundo,
traz ao homem sua mais plena dignidade.
Não é preciso o ruído de um canhão para impedir os seus pensamentos:
basta o ruído de um cata-vento ou de uma roldana.
Não vos espanteis se ele não raciocina bem agora;
uma mosca zumbe aos seus ouvidos:
é o bastante para torná-lo incapaz de conselho.
Se quereis que ele possa achar a verdade,
expulsai esse animal que põe sua razão em xeque
e perturba essa poderosa inteligência
que governa as cidades e os reinos.
Que deus divertido! O ridicolissimo heroé!”
Blaise Pascal
Tornar as afecções(empathos: sympathos, antípathos) sensações(filia),
por cruzamentos no mar de memórias em sentimentos(feelings).
Em lógica, todo sentimento é uma patho-logia.
Paixão sonora.
O ruído eterno destes tempos implosivos me absurda.
Mas não será esta a desculpa para o autismo amplificado dos ipods.
Música, velocidade dos tempos. Alcançada principalmente através do som (peso do espaço no caos aéreo) entrecruzado pela luz, cor das ondas eletromagnéticas. Em silêncio, som sublima da matéria energia e condensa dinâmicas em estruturas geoônticas.
Corpó, escuta composição. Um diletantismo ativo, ou como riria o bombástico, um “atingir o intelecto através dos sentidos”.
Sofia é de escutas sinestésicas, enquanto Sonia fracta a luz compactando-a na tatonomia do au-dio. Tom, espera do silêncio.
Por quê está-se mais disposto a ouvir os sons musicados por alguém que a cheirar seus hormônios ou tocar-lhe a pele, se são gradações dum mesmo espectro?
Novalis cantou ao terminar de ouvir o velho: Quando dissemos algo abertamente, em verdade, nunca dissemos nada. Já quando recorremos às cifras e imagens velamos a verdade com o véu da beleza.” ... ... ... Síbila...
Música antecede a som como dança precede fala. Som sublima os corpos em energia através do ar(o que gesta a quimera pulmonar por vida e apodrece a carne morta) do mesmo modo que a luz dos campos eletromagnéticos através das cores musíca.
O compositor da operatotalis do burgo(Wagner o cibernético) se lembra de Fausto sobre o bêbado que gritava pedindo o fim do discurso e a entrada da bandinha no coreto(Beethoven, a escuta surda):
“Um supremo espetáculo!
Mas ainda, ai! Um espetáculo.
Onde findo-te, ó infinda Natureza?”
O rádio é uma substância eletromagnética implacável que avança irresistivelmente em todas as direções nas dimensões sonoras contra a qual toda resistência é inútil, logo artística. Seu uso pelas corporações humanas visa propagar pela informação a pandemia, submergindo-nos na quantidade sempre maior de produção cultural pela reprodutibilidade afetiva(cabendo lembrar que todo afeto após a psicanálise é senão uma técnica de pulsão desejante) transformando os limiares de cognições singulares, de modo que a música se tornou o desdobramento fractal do ruído, ruído entre ruídos. Melonoise.
{mas também sei que nenhum canto vale mais do que a vida...}
A rádio foi o pequeno riacho que moveu a compreensão musicante geométrica pré-industrial renascentista para a caosmose digital analógica por entre as margens das interfaces maquínicas (incluindo as abstratas) modernizantes que formam o contemporâneo limiar bauhaus-barroco (minimalismo-maximalismo, sempre intencionalistas).
“A natureza diferencia e copia, a arte copia e diferencia” Pascal
Outras cristalizações de transcópia, multifragmentação, até em última instância, a plena logaritmização do vão som-tom de onde captamos a música empírica, fizeram com que tal riacho espectral tornasse-se caudaloso e preenchesse de significados toda a gama coloral do mar do cinema(o átomo da composição digital é o quadro a quadro cinemagético), relegando a escuta ao narcisismo prostado diante deste como um lago de águas sujas paradas em estilos buscando por si mesma.
"Eu não sei dizer nada por dizer, então eu escuto....."
Dois pontos que Foucault levanta são particularmente interessantes para nós. O primeiro é que ele opõe as heterotopias(acusmoses) explicitamente às utopias(silêncio e tom) e implicitamente às distopias(ruído), “posicionamentos que mantêm com o espaço real da sociedade uma relação geral de analogia direta ou inversa”. Elas são “a própria sociedade aperfeiçoada” (ou piorada, no caso das distopias) ou “o inverso da sociedade”. Já com as heterotopias, percebe-se, que a relação com o suposto mundo real não é simétrica. Em vez de apenas amplificar ou reverter as representações que fazemos do mundo, a heterotopia desarticula seus elementos e os insere numa configuração totalmente nova. Fosse Foucault um alquimista diria que a heterotopia solve et coagula.
Eu falei “suposto mundo real”, e não foi por acaso. Porque o segundo traço das heterotopias, que nos conduz direto e reto de volta à metaficção sonora, é seu “papel de criar um campo de durações ilusórias que denuncia como mais ilusório ainda qualquer espaço real no devir entre cronos e aeon, todos os posicionamentos no interior dos quais a vida humana é compartimentalizada”.
Não se canta errado uma canção, se faz uma versão diversa do mesmo mito.
“Não apenas como os sons se compõem. Mas, mais difícil como percebemos este som em relação aos seus elementos contituintes?”
Como Berio disse de Stockhausen "Tapeceiro Sonoro" e de Cage "Tradução Musical do Jogo do Bingo", dir-se-ia de Boulez "Origami de Partituras".
Não apenas como as estruturas musicais se compõem. Mas, mais difícil ainda como percebemos esta música em relação ao seu contexto(seus silêncios)?
O maestro escuta com os dedos, prova disto são suas tentativas de agarrar o som com as mãos, ou ainda mais difícil, a música com a pele.
música: uma pulga metafísica atrás do som da orelha.
Da mesma forma que um som não existe sem todo o ruído que lhe é estranho, um músico sem toda a política da cidade(arquitetura musicante) dos sons não se manteria.
¡Cómo? ¿El oyente tiene pretensiones? ¿Las palabras deben ser entendidas?
O pós alfabético acena com o retorno do pulso nodal como ponto de apoio da linguagem no corpo, mímese morfopoética baseada não no talento mas no esforço e no trabalho:
“I know that I’m working very hard, as you are working very hard to know what I’m working on.” Xenakis sobre a performance musical de Bergson.
“Avalia o instrumento com seu corpo, incorpora a si as dimensões e direções, instala-se no órgão como nós nos instalamos em uma casa. O que ele aprende para cada tecla e para cada pedal não são posições no espaço objetivo e não é à sua memória que ele os confia. Entre a essência musical da peça, tal como ela está indicada na partitura, e a música que efetivamente ressoa em torno do órgão estabelece uma relação tão direta que o corpo do organista e o instrumento são apenas o lugar de passagem dessa relação.” Merleau Ponty incorporando Bach.
O silêncio é redondo mesmo, Bachelard. O som e os sonhos nos levariam aos delírios de audiomancia onde a pedra entra nos alhures do grão... Microtons ao fogo...
Os quatro modos de escuta de Pierre Schaeffer:
1.Écouter(Escutar): Disponibilizar o ouvido, interessar-se por. Foco dirigido ativamente a alguém ou a alguma coisa que me é descrita ou assinalada por um som. O naipe flamejante do desejo. A preaudição que estimula diretamente no instinto pelos neurotransmissores a uma prática musical.
2.Ouïr(Ouvir): Perceber pelo ouvido. Por oposição a escutar, que corresponde à atitude mais ativa, aquilo que ouço é aquilo que me é dado na percepção. As mirações vêm do som da floresta ecoando pra encontrar os corpos trespassados pelas raízes. A trompa d’água da prática sonora.
3.D´entendre(Dentretender): É o estágio da escuta no qual ocorrem as qualificações do ouvir, dependendo de uma intenção. Segundo Schaeffer, a origem etimológica da palavra aponta que entender é "ter uma ‘intenção’. Aquilo que entendo, aquilo que me é manifesto, é função dessa intenção." Escuta a melodia do vento. Escuta o ritmo das rajadas de vento. Escuta a harmonia espacial dos ventos criando turbilhões. Escuta a brisa que reverbera no espaço. “É preciso ser leve como uma andorinha, não como uma pluma.” – Valéry
4.Comprendre(Comprende): Realizado a partir da qualificação do entender ensimesmado, é o ato de perceber um sentido onde o som torna-se um signo que possui relações com um código cultural. O juízo dos estilos e a guerrilha aural da sociofonia e sonologia. O tremor e a sujeira da posse de um objeto pelo som, terra. Cuando Artaud habla de la erosión del pensamiento como de algo esencial y accidental a la vez, é como Diógenes o Cão lembrando que o som é a medida de todas as fraquezas humanas.
¡Cómo? ¿El oyente tiene pretensiones? ¿Las palabras deben ser entendidas? -Federico Nietzsche
A passada melodia entre astros não soa mais – disse a salamandra ao escaravelho.
A harmonia presenta o espaço polidimensional(polimorfias de polifonias).
Ritmo atira no arco gerúndio futurações.
Sobre a harmonia contextual:
1) a música é um fenômeno que envolve interação entre diferentes agentes para sua existência e desenvolvimento;
2) a significação musical é um caso particular de um processo geral de significação (assim como se pode estabelecer um contínuo entre os processos cognitivos e os processos naturais)
e
3) a cognição musical é um caso particular de uma descrição geral de cognição.
efemérides: uma vez potencializadas
as entranhas energéticas da noz,
que apodreças como o escaravelho
a germinar a voz
Gainza, que trata exatamente da descrição do processo de aprendizagem musical:
“La música, el ambiente sonoro – exterior al hombre – al entrar en contacto con las zonas receptivas de éste (sentidos, afectos, mente) tiende a penetrar e internalizarse, induciendo un mundo sonoro interno (reflejo directo o representación de aquel) que a su vez tendera naturalmente a proyectarse en forma de respuesta o de expresión musical."
Varela et al (1991) passam em revisão às três perspectivas da ciência cognitiva acerca da noção de cognição e de como ela ocorre. Para os autores, a versão cognitivista clássica, que se apóia em modelagens da inteligência artificial entende cognição como: Information processing as symbolic computation – rule-based manipulations of symbols. How does it work? Through any device that can support and manipulate discrete funcional elements – the symbols. The system interacts only with the form of the symbols (their physical attributes), not their meaning. The emergency of global states in a network of simple components. How does it work? Through local rules for individual operation and rules for changes in the connectivity among the elements.
"Pratica a Música Sócrates! A flauta vertebrada é o canto do cisne morto no ballet..."
Representations create understanding and desire.
A essência da música não consiste apenas em agradar os ouvidos, mas também em enganá-los. Seria preciso uma grande arte para não imitar o pássaro, mas cantar como ele.
“-Críton, não esqueçai de levar um galo a Esculápio!”
A prova(ensaio) de Nino Taro lembra que a sinfonia é a sintonia com a qual sonhava Ford na sua ditadura temporal, a sincronia dos planos na linha de montagem.
O computador é o instrumento que mais se assemelha à voz humana. Criptografa na própria carne(silíncio) os caminhos metálicos da eletricidade, criptofona.
Trapdoor paradox is the most simple type of computer virus
abre uma porta que abre uma porta que abre...
o fenômeno coquetel, onde
em meio a um espaço ruidístico
estrutura-se um território harmônico
onde se deslindam as vozes
do coro ao solo, o foco aural.
as mirações vêm do som da floresta ecoando pra encontrar os corpos trespassados pelas raízes, a cidade tem som de ruminar de engrenagens em combustão, que nos chega?
“A guerra deve ser em função da paz
A atividade em função do ócio
As coisas necessárias em função das belas”
- Aristóteles e a escuta pelo silêncio.
Se Sócrates percebia que o texto escrito nos faria perder a memória, Platão já concebia a caverna-cinema nos despojando da imagem-pensamento em nome de fluxo ainda mais rápido. A gravação sonora nos ensurdecerá da música deixando as escuta nos limites de ruído e silêncio. No futuro toda canção pop terá seus quinze segundos de ruído e seu 1.5 decibéis de composição subliminar.
“Descansar? Descansar de quê? Quando quero descansar eu viajo e toco pianos.” O urbanismo dos dados quer gestar uma arquitetura para os afetos através de um sistema iterativo de paisagens de dados... A iteração é também o sistema de busca nos bancos de dados. Se você gosta de Coleman, provavelmente te contarei sobre Roach, mas menos de Pärt?
"Cada palavra falada nos trai. A única comunicação tolerável é a palavra escrita, porque não é uma pedra em uma ponte entre almas, mas um raio de uma luz entre astros." - Fernando Pessoa
Tacitlo Oswald lentamente mastigava olhando os vinis. Mariô os dera, quatro baladas de chopin e o trio em lá menor de tchaikowsky, dizendo:
Nem mesmo nossos breves momentos de revolta escapam ao fascínio da imagem... - tomou fôlego no café e continuou - ... um sentimento de excrecência, tudo o que invizível e indizível afastou-se de nós... a falta, o enigma, o campo simbólico, que são exatamente as condições do pensamento. A sociedade espetacular(a cultura artística) não reprime o pensamento, torna-o dispensável; a exclusão dessa condição essencial da subjetividade deixa-nos desamparados no caos simbólico(a chuva em Mautner) desgarrados de uma dimensão essencial de nós mesmos. Tal sensação limítrofe da ultrapassagem do cognescido levou os grupos humanos todos a inventarem seus mitos, de modo que sejam dotadas de sentido as novas formas de ordem social. Ocorre que nossos mitos hoje são produzidos industrialmente, ou hiperindustrialmente.
A cultura deixou de ser a referência da alteridade para tornar-se espelho do que nos é mais íntimo e familiar, só que tal familiaridade nos vem de fora da subjetividade. No Palácio da Música, caminhando nos porões com Pitágoras, Cartola ri.
Beethoven tomando um mé no jardim com Bartók escuta um tremor que o amigo cantarola fazendo da traquéia cello, Stratos e Gonzaga riem histrionicamente. Caberia lembrar que museu era o nome da prisão que construira Hefaísto para as musas.
Laranja eletrônica, hackers acionistas de Amadeus transmutam a melodia(operacracking) em tempos de rúido ao escárnio kitsch da obsolescência programada destas em mero ruído social. Logo mais as bandas de rock serão tidas ou como ONGs de serviço público de catárse ou como jogos de videogueime.
Sobre a Apassionatta disse Lênin: “Se eu a continuar ouvindo não levarei a cabo a revolução”
Precisamos construir salas de ruídos, como em outros tempos houve a necessidade de construirem câmaras anecóicas que enfeitassem de bossa a oca fadada ao "nova noise" e salas de concerto onde se alimentava o olvidar das forças da natureza.
O espetáculo alimenta-se das intensidades(ouça gore doom e speed metal) a violência não lhe é hostil nem estranha. Ao contrário a violência("sete mil poetas sádicos nas sarjetas") é o combustível e a cocaína que abastecem o showbusiness, por isto os EspectaDores estão cada vez mais adaptados a ela.
This {uma química das cores não bastaria para os oceanos superhélios} is our Cage.
Só as mercadorias, em sua juventude renovada protegem o consumidor da velhice, da caduquice, da insignificância , do esquecimento outorgado a nós pelas dimensões.
Um site 2.0 gera um banco de cultura com produtos poéticos que valem moeda artística numa economia subjetiva em limiar de overdose.
Com uma desvinculação do valor de mercado da música temos uma mais valia do processo sobre o objeto artístico.
A massa desmassificante dos patchworks(a pureza dos dados) compõe na miniaturização dos gestos atuantes a programassom ambiental no cerne da figura do compositor, feito campo satélite de uma acusfera possível.
“Quem quiser se prestar a compreender o mundo deve saber ao menos uma linguagem de programação” Z Hegedus
De modo a explicar a necessidade de superação da precisão industrial por um ócio criativo, De Masi diz: “A eternidade surge na cidade de Belém, o berço famoso das primeiras covas e liras, como consolação à morte assim como a arte só deixou marcas de seu nascimento fisicamente num ornato a uma flecha(que mira a beleza?)..."
Quando em maior perigo, Ulisses se amarrou às sereias pra não ouvir o mastro... à luz sê nó, gêneo.
As ondas sociais que Toffler ressalta são a senoidal espiral de Quetzacoatl como a frequência do Leviatã, o pulso nodal. Tal música transfigurada em ruído das séries aurais demanda o anonimato em nome da subjetividade coletiva(micropoder da ruidocracia), sem que se distingam o começo de uma ou o fim da outra nesta trilha sonora, pois é no campo filosônico entre música e som que jaz o inefável para ambas e para nós: o silêncio que desistimos de ouvir.
“Faltam pessoas que realizem o silêncio,
aquilo que não tem futuro.”
domingo, 8 de junho de 2008
Silvo a Alcyone
faz do talhe vômito, da forma estrume
os labirintos atirados às costas são alçadas das asas
sob a face gloriosa da chama libertas viram
a cidade a pique nos seus fédores
cairiam de joelhos se ainda houvessem pernas saindo do pescoço
osso oco, res posta à mesa formularam hematoma
co-sabores de carne dilacerada não pelas mãos
libelo lá não há, veria por menos de centelha
as uranianas baiavam para vanecer detrás do cinturão do ferido
círculo em giz marcado terreio promontório do cal caso
cruza-o
as marés nada sabem de pontes
letras são tipos de caixas visíveis
onde guardam-se os sons, Betel Hé Tau Vau Iód
às quais envideiam as palavras, frágeis por seu tamanho excessivo e prisão humana significada
ao xofre bebedoria em coluna obposta à mér curial ança
sal, o manto das correntes marteriais desfez o muro de contas
arrancar sete becas não bastariam
para a desnudez do vidro
quem se prende aos ponteios sob o temor às 18:30
Shin, ifus isaínas lembra o sabor da doença
só, deus posto no cú da cobra prima
busca então abrigo no centro da rota
esquece que a dama do lago nada pode, otar
refere ao lexo a espada presa à pedra do redemoinho,
não haveriam de coagular o feitiço com a fé, arot
nove jóias desdobradas numa got
indigestão de suas ganas e ânsias
prismado do recentio, recanto das auroras
esporos aos poros, esporas e esporras
martírio e centeio, you're so so so so sirius!
não há portos através dos portais
a mensagem é a garrafa, era are
ars terratio nebula, pó erguendo da terra batida
por pöe reis quatro gárgulas estupram rinthra
sob a pele escamoteada dos campos no teto
o cristal aprende a forma da transparência na pressão das profundezas
pelo inforço palavra transmuta carne em nervos músculos armas em lamas malas,
hitmo mór há mar
são as moscas advindas do aroma de teu sangue exposto
envaidecidas pelas miríades cristálidas de trás dos suóres cór têxtil
a se atirar em direção ao éter que envolve teus olvidos
pés naufragados sob flechas, não é violência a latência
dos pulsos severos, o literal bruto é passivo frente ao grito tácito
a corte abrupta do somnio alicerçada no ícone escatológico táctil
mugindo leite de porra a vaca desleixada pisoteia a carcaça do leopardo
como fizera antes com o tigre e a pantera
invencida, pois derrota pelo lampejo da semeadura do futuro na memória raciante
nove fonias em sýn por uma alegria, duas mortes, três ilusões nas escadarias
Flöerflüsserkantorpyrosbach, rio de chamas em flamas
serias um bom home, ainda houvessem homens
todos os encaminhos levam à mesma perdição
subir alvo almejar só para render-se peranto torque
no puteiro onde conheci quatorze putas doentes no oriente
famélicas pelo contágio das cabeças carecas de garras aglutinadas ao ocidente
todas em dança geométrica às dinâmicas se prostavam a harmonia
esta se punha de cú pro sol secando suas graciosas hemorróidas
loglaheliopoiesis... galo noturno, corvoz e colhibrio sob o olhar de mar lei
ditaram
sobrevivência barrosa às feras pela ensenhança de carregar vermes ao bico
o pasto antecede a mata para a boca não à pataca
sete vezes sete gerações mastigaram os próprios dentes
por saber o tamanho ideal da pedra
a carregar-se em larga palma com firme pulso
pimenta por sob as unhas, barulho e poluítica
voz antecede o veneno à língua
a droga perfeita, agora, nos deseja
cisca gorgeios pragmáticos nos vestíbulos da burocracia
fomento e a loteria das cabeças infladas por quiabo e páprica
à marcha dos objetos, um buda com coração de cristo e chifres faunos
:o mundo alegre e mundano vai demonstrar sua raiva enfim
anunaki e as prateleira de nibirus, este dilúvio será de luz
treze cavalos de fogo circundam a siriema aquosa
nunca encontraram uma só cobra em seu estômago
digeriu pelo canto a impossível curva
brasa fez-se, fênrix lúpolo
domingo, 1 de junho de 2008
O ato de criação: uma aposta ético-política para a vida comunitária
Texto de Annabel Teles, 10 de dezembro de 2007 – inauguração do Museo de la Memória Montevideo, Uruguay
Tradução por Daniel Avila
I
Em primeiro lugar, quero agradecer a Alba Platero, aos organizadores deste evento, o convite para participar desta mesa que me brinda com a possibilidade de compartilhar com todos vocês este momento inaugural. Aqui, neste lugar onde se aninham tantas dobras penosas de nossa memória, onde novamente, neste espaço, se afirma a vida.
A convocatória deste evento nos força a pensar neste tempo e lugar. A pensar o presente e as transformações que nele ocorrem, a pensar a memória. Pensar o presente não significa fazer uma descrição dos fatos, do atual estado das coisas, significa iluminar os signos do devir que expressam a emergência de múltiplas mutações, que trazem consigo a possibilidade de sermos diferentes daquilo que somos.
Tornar a pensar a memória adquire relevância. A memória nos coletiviza, ilumina os vínculos entre os seres. Nos brinda com a possibilidade de experimentar as tramas relacionais, os acontecimentos que povoam o mundo e constituem nossas vidas. Não é questão de idade, a memória insiste ainda nos mais jovens. Em cada um dobra-se de um modo singular, assinala o rumo por onde caminhar para alcançar as tramas afetivas que são a condição para o desdobrar de uma vida renovada.
Pensar a memória coletiva, pensar a própria memória, significa encarar nossa vida atual, pensar seu sentido e valor. Pensar, também os percursos efetuados e as afirmações realizadas.
Nos dias anteriores, quando comecei a escrever este texto, apresentaram-se a mim muitas imagens, palavras, gestos fugazes. Junto a ele, lentamente impôs-se a pergunta pelo sentidos das buscas, das ânsias, da tenaz insistência de tantos de nós em encontrar, mediante o pensamento e a ação, as veredas que nos conduziriam a territórios de liberdade e justiça pelos quais havíamos lutado em nossa juventude.
Nesses dias, me despertou a sensação desse desejo que me empurrou para frente durante os trinta anos em que vivi na Argentina. Essa ânsia que me obrigou a estudar, a investigar, a transmitir aos outros que não existem ruelas sem saída, que os desejos de transformação ainda têm vigência, que não são exclusivos de uma geração, de uma época e tampouco formam parte de um passado irrevogável.
A história das idéias, sua genealogia, me deu pistas de que antes, muitos antes de nós, houveram outros que buscaram, de diferentes modos, os caminhos que conduziram a outros modos do mundo, onde fosse possível relações libertárias e amorosas entre as pessoas.
A memória, sem dúvida, guarda em si um potencial emancipatório, enriquece o presente, atualiza o passado e dá lugar ao futuro.
II
A preparação deste texto ajudou-me a compreender profundamente o sentido de tantos anos de ensino e investigação filosófica onde a preocupação foi a de trabalhar esta difícil relação entre a filosofia e a vida, entre o pensamento e a produção – digo produção em um sentido amplo que inclue a criação artística, mas que não deixa de lado a produção material, nem as distintas modalidades produtivas que realizam os seres humanos.
Pude vislumbrar que esse pertinaz desejo de pensar o acontecimento, o que passa e nos passa, era um modo de tentar pensar a construção coletiva de novos modos de vida, nos quais fosse possível integrar aqueles que sempre culminam em ficar de fora.
Os fragmentos do passado nos esvoaçam, insistem. Nossos desejos formam parte de uma memória coletiva que adquire corpo, consistência. As experiências vividas aqui, nesse território, adotam novos sentidos, fazem-nos inverter o olhar, escutar as vozes de outros tempos, aquelas que ressaltam caminhadas singulares.
Os relatos das experiências vividas ressoam em nós. A recordação dos contos que minha mãe evocava de suas viagens pelo interior do país, junto a outros professores nas missões pedagógicas, me abriu uma nova perspectiva. A memória destas experiências me deu as pistas para pensar que o ensino não se limita às aulas, que o exercício do pensamento e a arte não são exclusivos das formas estabelecidas. Notei que hoje era importante escutar os desejos de criação daqueles professores, de minha mãe que em uma escola do povoado de Sauce, no departamento de Lavalleja, semeou as sementes para a criação de uma comunidade educativa, artística e produtiva.
Os fragmentos da memória compõe-se e decompõe-se. Dizem-nos sobre as lutas de homens e mulheres, de épocas de opressão, de perseguições, de torturas e assassinatos. Dizem-nos as tramas afetivas nas quais vivemos, pensamos e agimos; do presente e da transformação. Dizem-nos, também, de desejos éticos e políticos de outros modos do mundo.
III
Como, e até onde, é possível pensar diferente? [1] A pergunta de Foucault formulada no campo da filosofia tem sido uma guia do pensamento para muitos de nós. Ela insiste em nossos dias, orienta o pensamento filosófico, despeja um novo-antigo caminho. A filosofia não se limita a legitimar o conhecimento e assegurar a ação, abandona a vontade de verdade como seu único propósito.
O pensamento filosófico que se realiza com relação à vida, aos acontecimentos que a povoam, expressa uma preocupação por aquilo que passa e nos passa; abre uma fissura no presente, dá lugar ao novo, ao que se distingue do estado de coisas vigente; ilumina os sinais da transformação.
Os problemas filosóficos são problemas vitais, dizem respeito aos homens, às mulheres, ao mundo. Os problemas trazem consigo focos intensivos, urgências, aprisionamentos das forças vitais que produzem fissuras por onde introduz-se a potência mutante do devir. Formular problemas e compreendê-los exige abrir-se às sensações, às intensidades que nos percorrem e nos atravessam, às dimensões afetivas que constituem a vida dos seres e do mundo.
A filosofia converte-se em um ethos [2], uma atitude que suporta um modo de relação com o mundo, com os demais e consigo mesmo. A filosofia recobra seu vigor, diz os acontecimentos, dá conta de seu sentidos e de seu valor, estimula a afirmação de um pensamento ético-político como exercício de liberdade.
IV
A relação da filosofia com a arte tem sido delicada desde os tempos de Platão. Na trilha de Nietzsche e de alguns de seus antecessores, Gilles Deleuze, filósofo francês contemporâneo, formula uma relação intrínseca entre a filosofia e a arte. Com relação à pintura nos diz que a filosofia espera algo que só a pintura pode lhe dar. A pintura impõe um raio luminoso sobre os conceitos filosóficos[3]. Segundo ele a filosofia é uma atividade essencialmente criativa, cria conceitos. Seu trabalho de elaboração conceitual a aproxima da arte, cria conceitos filosóficos em relação à arte. Em alguns de seus textos nos deparamos com idéias interessantes para o momento de pensar a relação entre arte e política. Tomarei aqui quatro idéias que podem contribuir nesse sentido.
Primeira
Nessa sintonia, a pintura de diagrama torna-se um conceito lógico, filosófico, que guarda uma relação privilegiada com a pintura. A noção de diagrama pictórico põe em relação necessária duas idéias, a idéia de caos e a de gérmen. O diagrama é considerado como um caos do qual emana algo: um caos presente sobre a tela para que algo salte dela. O diagrama desfaz a representação e faz surgir a presença. Mediante o caos se desfazem os acontecimentos formais, o já dado, para dar lugar ao novo. [4]
Segunda
O ato de criação expressa necessariedade, a criação está impregnada de necessidade. Um criador não é um ser que trabalha por prazer. Um criador não faz mais que aquilo do qual tem absoluta necessidade[5].
Terceira
O ato de criação devém um ato de resistência. Deleuze nos diz, de modo radical, que a obra de arte não é um instrumento de comunicação, ela não contém informação. A informação é o sistema controlado das palavras de ordem que têm lugar em uma sociedade dada [6]. Segundo ele é preciso uma desobediência permanente ao sistema de controle que dita no que temos que acreditar, fazer e dizer. A desobediência ao sistema de controle somente se efetua quando a contra-informação torna-se um ato de resistência. A obra de arte enquanto ato de criação é um ato de resistência.
Quarto
Cito Deleuze: Só o ato de resistência resiste à morte, seja sob a forma da obra de arte, seja sob a forma de uma luta dos homens. E que relação misteriosa há entre a luta dos homens e a obra de arte: A relação mais estreita e, para mim, a mais misteriosa.
É exatamente isso que queria dizer Paul Klee quando dizia: “Vocês sabem, falta o povo” (...) esta afinidade fundamental entre a obra de arte e um povo que ainda não existe, não é nem será clara, jamais. Não há obra de arte que não faça um chamado a um povo que não existe, ainda.
V
O pensamento político, em sua relação com a arte e a filosofia, sofre uma transformação. O conceito de diagrama, caos-gérmen, afirma a dissolução da rigidez própria das formas estabelecidas, dá lugar a uma modalidade diferente, a uma presença direta da vida, da criação no político.
O conceito de diagrama comporta uma lógica temporal, mutacional, que estimula a emergência de atos de resistência que levam em si o gérmen da criação. O ato de criação torna-se necessário, expande a potência criadora singular do artista, como expressão da potência criadora do mundo. Nesse sentido, artista será todo aquele que, graças a uma imersão no jogo relacional da vida, a uma intensificação da relação com os demais e com o mundo, alcança uma afirmação singular e necessária de sua potência criadora.
VI
Neste momento, gostaria de fazer uma breve menção ao pensamento de Espinosa, filósofo do século XVII para enriquecer a relação entre política, arte e filosofia, já que seu pensamento está subjacente na formulação ético-política que estamos realizando.
Deleuze lê Espinosa e Nietzsche. Para ele ambos guardam um vínculo muito estreito e configuram um plano de pensamento singular no que se desdobra a potência criadora como potência-ser. O ser define-se em sua potência de existir e de produzir. As considerações da potência, da produtividade, da criação, nos remetem à ontologia, ao pensamento do ser, à pergunta pela realidade.
No que se refere à política, o peculiar do pensamento de Espinosa é que a política se une à ética e à ontologia. O pensamento que concebe o Ser é o mesmo que anima a ética e a constituição prática da organização política.
Nesta perspectiva o problema ético-político fundamental é “como ser livre?”, “como gerar as melhores condições para efetuar a potência produtiva?”, “como realizar um exercício de liberdade capaz de enlaçar o desejo e a criação?” A proposta político-social de Espinosa seria como gerar as condições para a apropriação, aumento e expansão da potência criadora dos homens e mulheres.
VII
No momento de concluir as perguntas multiplicam-se. Como devir seres produtivos capazes de exercer sua potência-desejo de criação; como gerar as melhores condições para o desdobrar de processos criativos; como gerar um plano de pensamento e produção onde se elaborem estas questões e, assim, atenda-se os problemas ao nível do trabalho, a alimentação, a saúde e a moradia das pessoas.
Nesse contexto a arte, ao assumir seu potencial metamórfico, ao expandir e efetuar, mediante seu exercício específico, a potência criadora dos seres, realiza uma aposta ético-política capaz de desdobrar relações libertárias, de composição e alegria.
Bibliografía
Foucault, M., El uso de los placeres, Historia de la sexualidad II, Siglo XXI, México 1988.
Deleuze, G., Guattari, F., ¿Qué es la filosofía?, Anagrama, Barcelona, 1993.
Deleuze, G., Nietzsche y la filosofía, Anagrama, Barcelona, 1993.
Deleuze, G., Pintura. El concepto de diagrama, Cactus, Buenos Aires, 2007.
Deleuze, G., La imagen- tiempo, Estudio sobre cine 2, Paidós, Barcelona, 1984.
Deleuze, G., En medio de Spinoza, Cactus, Buenos, Aires,
Deleuze, G., Spinoza y el problema de la expresión, Muchnik, Barcelona, 1975.
Deleuze, G., ¿Qué es el acto de creación? Conferencia dada en la cátedra de los martes de la fundación FEMIS, 1987-http://www.dialogica.com.ar
Foucault emplea este término en “Qu’est-ce que les Lumières?”, en Foucault, M., Dits et écrits, vol. IV, Gallimard, París, 1994, p. 577.
[1] Foucault, M., El uso de los placeres, Historia de la sexualidad II, Siglo XXI, México 1988.
[2] Foucault emplea este término en “Qu’est-ce que les Lumières?”, en Foucault, M., Dits et écrits, vol. IV, Gallimard, París, 1994, p. 577.
[3] Deleuze, G., Pintura. El concepto de diagrama, Cactus, Buenos Aires, 2007, p. 22
[4] Op. cit., p. 91
[5] Deleuze, G., ¿Qué es el acto de creación? Conferencia dada en la cátedra de los martes de la fundación FEMIS.
[6] Op. Cit.
[7] Deleuze, G., La imagen- tiempo, Estudio sobre cine 2, Paidós, Barcelona, 1984, p. 286 ss
sábado, 10 de maio de 2008
Imagética entrópica ou esboço de uma poés-práxis dos simulacros
(quem sabe, poderemos falar que a Fé é uma força do Nada)...

"se tratando de ilusões, devemos tomar um extremo cuidado em escolher a certa"
Praticante anônimo de alguma religião
-
"a perfeição que (Ele) busca está no modo como as pessoas re-agem".
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Proto-escuta por:
Grizzly Bear - On a neck on a spit / Reprise
quinta-feira, 1 de maio de 2008
A Viagem de Bicicleta de Hoffman Através dos Carros Astrais Brancos
o trânsito é o signo (ígneo) e o acontecimento mesmo de uma lógica sistemática (ou poder sobre a lógica, sobre o próprio movimento, o lógos) desde a modernidade....
Tratando-se de sistemas, o trânsito poderia se atribuir a alguns diferentes sistemas, que funcionam sob um mesmo padrão - a lógica e o agenciamento de seus fluxos (percurso e destinação): o dos veículos motorizados e não motorizados (ruas, vias expressas, incluindo as calçadas e passagens para pedestres); o de saneamento básico e abastecimento (incluindo esgotos e encanamentos); o de transações virtuais e materiais, dos valores (cabe aqui dizer a própria economia); o própriamente virtual e imagético, o da informação (gerando aqui o que se tornou a internet).
...
imaginemos, então, esta lógica e o conceito implícito de sistema que podemos tratar como um poder além da potência, um poder que cerceia a potência de movimento e locomoção (do nível material ao ideal):
a propriedade e a subjetivação pelo objeto móvel - a determinação de uma personalidade e atitude pelo tipo de carro com o qual se transita, o risco e o medo da perca de identidade pela perda do automóvel (o próprio nome já diz, uma mobilidade automata, só é preciso deprender cuidados regulares para seu uso), a pseudo-idolatria do objeto nos assujeita a tal forma de locomoção, que se relaciona diretamente com nossa potência - a vontade de percorrer caminhos, lonjuras, velocidades, a potência errante, da viagem... ela é pega bem aqui... no carro e no controle de trânsito...


